Aula 4b – Filosofia na Idade Média

Um

 

Filosofia no início da Idade Média

 

 

 

Dois

Filosofia medieval: Santo Agostinho

  • Ao final do período helenístico, começa a desenvolver um pensamento, com forte dimensão educativa, agrupado sob o nome de “filosofia medieval”.
  • Ele durou dez séculos, até o Renascimento, e pode ser dividido em diferentes fases, grosso modo, início (sec. V até sécs. IX-X), apogeu, com desenvolvimento da escolástica e crise, a partir do surgimento do humanismo renascentista (sécs. XV-XVI).
  • No início, a característica principal foi a síntese entre o pensamento judaico, a cultura grega e o cristianismo.

Três

Busca de uma ortodoxia

  • Ao mesmo tempo que favorecia o projeto universalista do cristianismo, o caráter eclético do pensamento (e práticas decorrentes) colocava o risco do fracionamento do sistema de crenças.
  • Daí, a necessidade do desenvolvimento de uma ortodoxia (“verdade correta”). No início, são os filósofos do mundo helênico convertidos ao cristianismo (os apologetas), que cumpriram esse papel, aproximando a filosofia de Platão da visão de mundo cristã.
  • Porém, esse movimento não se fez sem conflito, particularmente quanto à dicotomia entre razão e fé (“Se não credes não entendereis”, Isaías 7-9). Qual a relação entre fé e pensamento?

Quatro

Consolidação e apogeu do pensamento cristão

  • Apesar do início de uma teologia independente da filosofia, a incorporação (ainda que seletiva) de conceitos-chave de Platão e Aristóteles para esclarecer questões teológicas, marca uma incorporação definitiva da filosofia grega na tradição cristã.
  • Assim, aspectos como o dualismo entre mundo espiritual e material (via Platão) e a lógica demonstrativa aristotélica marcam a filosofia cristão, assim como as ideias de resignação, austeridade e autocontrole dos estóicos.
  • Santos Agostinho (354-430) e Tomás de Aquino (1225-1274) são dois dos principais filósofos cristãos.

Cinco

Santo Agostinho

  • Nasceu e pregou no norte da África, após estudar e viver na Itália, por isso é conhecido como Agostinho de Hipoma (cidade da Numídia – hoje parte da Argélia).
  • Era originalmente cristão, mas ligou-se ao maniqueísmo, convertendo depois novamente ao cristianismo.
  • Autor e pensador profícuo, desenvolve uma teoria sobre o conhecimento, com evidente relação com o platonismo.

Fonte imagem: Wikipédia

Seis

Santo Agostinho

  • Enfrenta o paradoxo entre fé e razão, defendendo o primado da teologia sobre a filosofia: a recompensa maior do homem seria a salvação da alma.
  • Santo Agostinho defende então que a religião cristã é a “verdade revelada” é que sua apreensão se dá a partir de uma iluminação que pode, entretanto, ser favorecida pela filosofia.
  • Reinterpretando a teoria platônica da reminiscência, afirma que o mestre pode não ensinar a verdade, mas despertá-la na alma dos indivíduos. No diálogo De magistro (O mestre, ou O professor), visto como um clássico da filosofia e da pedagogia, discute esse ponto

Sete

De magistro e a filosofia de ensino de Santo Agostinho

  • Do ponto de vista pedagógico, a principal questão enfrentada por esta obra é quanto à possibilidade do ensino e o que deve ser ensinado
  • As indagações a propósito da linguagem, nessa e em outras obras, fazem do autor um precursor da hermenêutica e da semiótica.
  • A despeito disso, sua conclusão não difere do inativismo de Platão: quem ensina é o mestre interior (identificado com Cristo).
  • Mas isso não implica desimportância do mestre, e das palavras, já que ambos incitam o aprendizado, o que adianta a questão sobre o que ensinar e como.

Oito

O que ensinar e como para Santo Agostinho

  • “O papel do educador agostiniano é o de trazer à luz aquelas verdades que estão encobertas: ou pela carne, no interior da alma individual, ou pelo interior das palavras proferidas ou escritas, principalmente as das escrituras bíblicas” (Rossatto, 2014, p. 67).
  • Assim, torna-se explícito o programa: os conteúdos bíblicos (o que), cujo ensino demanda leitura e interpretação (como).
  • A Escritura é tomada como o texto complexo que exige interpretação não literal, que exige do professor a preocupação em “expor (enarratio) o texto da melhor forma possível” (idem, p. 72), recomendando-se o uso de “fato admiráveis”, para não cansar o aluno, num crescente de complexidade.

Nove

Organização do ensino

  • “Augustine encounters education as a problem: education as the creator of cultural identity” (Harrison, 1998, p. 67), relacionada à Cidade de Deus projetada por ele.
  • A pedagogia de Santo Agostinho preescreve à Igreja um papel educativo e civilizatório, que está na origem da educação escolar que se inicia na Idade Média: formar o cristão, bem como indivíduos capazes de pregar e converter.

Ref

Referências

MARCONDES, Danilo. (2001) Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 6a ed. Disponível em link.

ROSATTO, Noeli (2014) Agostinho educador. In: Martins, Marcos Francisco e Pereira, Ascício dos Reis. Filosofia e Educação: ensaios sobre autores clássicos. São Carlos: EdUFSCAR, p. 61-77.

Um

 

Filosofia e Educação na Idade Média e início da modernidade: Tomás de Aquino

 

 

 

Dois

História: fim do Império Romano

  • Com o fim do Império Romano e sucessivas invasões bárbaras, a filosofia decai na Europa.
  • “Durante esse período, a Igreja foi a única instituição estável e a principal e quase exclusiva responsável pela educação e pela cultura” (Marcondes, 2001, p. 115).
  • Somente a partir do século IX, a maior estabilidade e unidade europeias (Sacro Império Romano-Germânico) permitem a tentativa de reviver o saber clássico e desenvolver a filosofia.

Fonte imagem: Wikipédia

Três

Ensino

  • A produção (copistas) e difusão dos textos filosóficos a partir e entre os mosteiros e outros centros de formação eclesiástica permitem o desenvolvimento do ensino e da filosofia.
  • Em 1070, o papa Gregória VII estabeleceu que cada abadia e catedral deveria ter uma escola que ensinasse o trivium (gramática, lógica e retórica) e o quatrivium (música, geometria, lógica e retórica).
  • E também nesse centros que se desenvolve a filosofia medieval chamada de escolástica.

Quatro

Escolástica 1

  • Surgida durante os séculos XI e XII, a escolástica caracteriza-se por tentar fundir a religião, os princípios doutrinários do cristianismo e a fé; nesse sentido retomando Agostinho.
  • Aspectos discutidos, então, são a questão da prova de Deus, aproximando teologia e filosofia, caso de santo Anselmo (ca. 1033-1109).
  • Este sustenta que existe uma verdade absoluta (Deus), da qual todas as outras decorrem, no que pode ser considerada uma síntese do pensamento medieval, em sua preocupação de dar base racional à doutrina cristã.

Cinco

Universidades e ordens religiosas

  • Uma dimensão social importante no desenvolvimento do pensamento é a criação das universidade e ordens religiosas, no século XIII.
  • O renascimento da vida urbana e as preocupações mais práticas (comércio, defesa, etc.) explicam o interesse pela obra de Aristóteles.

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Seis

Retomada de Aristóteles

  • Aspecto também importante no desenvolvimento do pensamento filosófico medieval é a retomada de Aristóteles, a partir da filosofia árabe, pelos contatos com estes e após a reconquista europeia dos territórios ocupados pelos muçulmanos.
  • Estes preservaram, comentaram, difundiram e desenvolveram o pensamento grego (e científico de maneira geral).
  • Córdoba na Espanha, onde viveu o filósofo Averróis (1126-1198), por exemplo, foi um grande centro cultural europeu desde o século IX.

Sete

Tomás de Aquino (1225-1274)

  • Foi frade (dominicano) e esteve ligada a universidade da época.
  • Considerado o principal autor da escolástica, o que tentou de maneira mais sistemática aproximar a filosófia de Aristóteles da doutrina cristã.
  • Contra os ataques ao valor da razão para uma vida religiosa, defendeu o papel de uma vida intelectual e da educação.

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Oito

Aquino e a Educação

  • “Seu argumento de defesa da educação era que a aplicação aos estudos e ao ensino pelos religiosos constituía obra de perfeição, sendo que a finalidade dessa obra é formar aqueles que irão formar os outros” (Albertuni, 2014, p. 84).
  • Assim, torna-se explícito o programa: os conteúdos bíblicos (o que), cujo ensino demanda leitura e interpretação (como).
  • Preocupação formativa ensejou produção de obras de caráter didático-pedagógico, de exposição dos textos da doutrina cristã.
  • Relê Agostinho, notando que só Deus ensina interiormente, mas o homem pode e deve ensinar exteriormente. Nesse sentido, defende a prática do ensino como atividade da vida ativa.

Nove

Crise da escolástica

  • Apesar do desenvolvimetno da escolástica, em Aquino, ser menos dogmática que a versão consagrada pela história, de fato, o pensamento se enrigeceu e passou por grande repetição e decadência.
  • Apesar disso, o exemplo prático do ensino em Aquino teve um componente forte de pedagogia ativa, estimulando os estudantes a pensar e debater.
  • Por outro lado, a forte ênfase nos conteúdo estudados/ensinados foi uma espécie de legado aquiniano à “escola tradicional”.

Ref

Referências

ALBERTINI, Carlos Alberto. Tomás de Aqwuino: o ensino e a arte de ensinar. In: MARTINS, Marcos Francisco e PEREIRA, Ascício dos Reis. Filosofia e Educação: ensaios sobre autores clássicos. São Carlos: EdUFSCAR, p. 79-94.

MARCONDES, Danilo. (2001) Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 6a ed. Disponível em link.

Um

 

Filosofia e Educação na Idade Média e início da modernidade: Comenius

 

 

 

Dois

História: fim do Império Romano

  • Tido como o “pai da Didática”, Comenius (1592-1670)também foi pioneiro na defesa da universalização do ensino.
  • Sua defesa da universalização educativa está amparada num ideal político, filosófico e religioso com preocupações que prenunciam o humanismo moderno.
  • Preocupou-se com os matérias e métodos didáticos com vistas a essa universalização.

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Três

Influências e críticas

  • Em termos filosóficos, as ideias pedagógicas de Comenius sofrem influência do empirismo de Bacon, e sua valorização da experiência.
  • Suas ideias, porém, sofrem a crítica de terem um sentido muito utilitário, o que poderia gerar indivíduos pouco críticos.

Quatro

Organização do ensino

  • Surgida durante os séculos XI e XII, a escolástica caracteriza-se por tentar fundir a religião, os princípios doutrinários do cristianismo e a fé; nesse sentido retomando Agostinho.
  • A didática era vista pelo autor como o método de “organizar a instrução de forma segura ordenada e, sendo assim, distribuir o que se deve ensinar de modo que ‘os docentes ensinem menos e os discentes aprendam mais; nas escolas haja menos conversa, menos trabalho e trabalhos inúteis, mais tempo livre , mas alegria e mais proveito’ [A didática magna]” (Silva e Reis, 2014, p. 111). li>

Ref

Referências

SILVA, Kátia Aparecida de Souza; REIS, Magali. A educação universalista de Jan Komenský. In: Martins, Marcos Francisco e Pereira, Ascício dos Reis. Filosofia e Educação: ensaios sobre autores clássicos. São Carlos: EdUFSCAR, p. 119-144.