Aula 3 – Filosofia no mundo grego

Um

 

Filosofia da educação no mundo grego antigo: Sócrates

 

 

 

Dois

Sócrates e a consolidação da filosofia

  • Com Sócrates, a questão do humano ganha relevo expressivo, de modo que as questões morais e éticas adquirem centralidade na filosofia.
  • Essa preocupação terá fortes contornos epistemológicos – a vida Boa, Justa, é aquela voltada ao conhecimento. Mas o que é o conhecimento?
  • Quais são os métodos que podem levar ao saber? Este tipo de questionamento, faz com que a Educação permeie todo o projeto filosófico socrático, além de ter implicações sobre a comunicação pedagógica.

Três

Os sofistas

  • No mesmo ambiente cultural e político em que surge a filosofia de Sócrates, desenvolve-se então o pensamento dos chamados sofistas.
  • Esses pensadores, entre os quais Protágoras (481 a.C.-420 a.C.), percorriam o mundo antigo ensinando o logos.
  • Filósofos e educadores, são também considerados precursores dos advogados e, muitas vezes, cobravam por seu ensinamentos e serviços.
  • Desse modo, buscavam aperfeiçoar seus discípulos na arte da argumentação, na retórica, usada para discutir questões humanas; afastam-se dos pré-socráticos, mas diferem também de Sócrates.

Quatro

Sócrates e os sofistas

  • A importância do uso da razão e da argumentação, no contexto da sociedade grega democrática (após etapas de tirania e oligarquia), aproxima Sócrates e os sofistas.
  • Porém, eles diferem quanto aos pressupostos sobre a verdade: enquanto os sofistas são basicamente relativistas, Sócrates acredita na existência de verdades universais.
  • Nós diálogos socráticos há críticas aos sofistas (termo que, com o tempo, ganhou significado negativo). Apesar disso, o humanismo aproxima Sócrates dos sofistas, assim como a preocupação com a linguagem.

Cinco

Sócrates: fragmentos biográficos

  • Sócrates (c. 469-399 a.C.) não registrou seu pensamento por escrito, e o que se sabe sobre sua vida também se deve a terceiros (como Platão e Xenofonte).
  • Teria sido um ateniense de estrato médio, que tomou parte em dimensões da vida pública (foi um soldado destacado), mas que notabilizou-se pela ação nos espaços públicos, dialogando com seus discípulos e diferentes pessoas.
  • Esta atividade (controversa), assim como as ações de seus discípulos, teve influência no processo em que foi condenado à morte.

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Seis

Concepção filosófica de Sócrates

  • “A concepção filosófica de Sócrates pode ser caracterizada como um método de análise conceitual. isso pode ser ilustrado pela célebre questão socrática ‘o que é…?’ – encontrada em todos esses diálogos –, através da qual se busca a definição de uma determinada coisa, geralmente uma virtude ou qualidade moral” (Marcondes, 2011, p. 26).
  • A preocupação com o conceito geral evidencia a tentativa de ultrapassar a verdade parcial ou consensual, o relativismo, para alcançar o geral, a verdade universal. Isso envolve uma crítica à opinião não examinada (doxa), ao senso comum, e à mera retórica.

Sete

Método socrático 1

  • Uso da maiêutica (literalmente a arte do parto), implicando um contínuo questionamento e refinamento das ideias habituais.
  • Declarando-se ignorante (ironia socrática), o filósofo provoca com perguntas o interlocutor, retomando as respostas já dadas e mostrando as contradições que elas apresentam.
  • Embora geralmente inconclusivos, aporéticos (de aporia, impasse), os diálogos conduzidos por Sócrates mostram que o verdadeiro conhecimento (episteme) exige um questionamento rigoroso, que vai além do mero convencimento do outro ou de um auditório.

Oito

Método 2

Exemplos

  • 28 min. – Acusação
  • 52 min – Diálogo com Hípias / papel do diálogo na busca do conhecimento / diálogo com Euthyphro (aporia) sobre a piedade
  • 1h15 min – Defesa

Nove

O paradoxo da educação em Sócrates

logos

  • Filósofo negava ter conhecimento e recusava o título de professor (didaskalos), como nota Silva (2014).
  • Então, o que Sócrates ensinava? Mais do que qualquer conteúdo, para o autor citado, “a sabedora humana de Sócrates concerne ao saber que se sabe e que não se sabe” (Silva, 2014, p. 26).
  • Dessa forma, ele convidava as pessoas à (auto)indagação e à busca do conhecimento verdadeiro que todos teríamos dentro de nós (teoria da recordação), que se inicia com a admissão da ignorância.

Dez

Educação em Sócrates

  • Por outro lado, é possível identificar características gerais que estão no centro da ação (pedagógica) socrática. A partir dos diálogos de Platão, Woodruff (1998, p. 13) identifica as seguintes:
  1. Ênfase no pensamento crítico e consistente;
  2. Um peculiar conceito de ensino com menos ênfase no professor (que possui uma concepção diferente da tradicional);
  3. A crença de que a educação filosófica poderia ter potencial para transformar a vida das pessoas para melhor.

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Ref

Referências

MARCONDES, Danilo. (2001) Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 6a ed. Disponível em link.

SILVA, José Pereira Lourenço da. (2014) O que Sócrates ensinava? In: Martins, Marcos Francisco e Pereira, Ascício dos Reis. Filosofia e Educação: ensaios sobre autores clássicos. São Carlos: EdUFSCAR, p. 17-32.

WOODRUFF, Paul. (1998) Socratic education. In: Rorty, Amélie Oksenberg. Philosophers on Education: New Historical Perspectives. Londres, Routledge & Kegan Paul, p. 13-29. Disponível em link.

Um

 

Filosofia da educação no mundo grego antigo: Platão e Aristóteles

 

 

Dois

O desenvolvimento da filosofia

  • Os discípulos e continuadores de Sócrates, nomeadamente Platão e Aristóteles, aprofundaram e alargaram as perspectivas lançadas por ele.
  • Em ambos os casos, a educação continuou a ser relacionada com a formação do cidadão e da pólis (num contexto de crise desta), porém de uma maneira mais sistemática do que antes.
  • Há, portanto, uma profunda preocupação pedagógica em ambos os autores e o desenvolvimento de planos sobre como deve ser a educação e para que fins.

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Três

Platão

  • Discípulo direto e principal divulgador do pensamento de Sócrates, Platão (427-347 a.C.) foi também mestre de Aristóteles.
  • Desenvolveu uma longa obra, que “se caracteriza como a síntese de uma preocupação com a ciência (o conhecimento verdadeiro e legítimo), com a moral e a política. Envolve assim um reconhecimento da função pedagógica e política da questão do conhecimento. Sua conclusão é que o conhecimento (o saber) identifica-se com o bem” (Marcondes, 2001, p. 51).

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Quatro

Platão e a educação

  • A preocupação com a formação humana perpassa a múltipla obra do filósofo, dando continuidade a investigações de Sócrates.
  • “Pode-se dizer que a procura filosófica de Platão está imersa no embaraço da problemática sobre a possibilidade ou não do ensino da virtude, que em resumo se define como a procura pela formação humana em seu sentido mais amplo: a Paidéia” (Franklin, 2014, p. 46).
  • Aprofundando a teoria da reminiscência de Sócrates, Platão nega a possibilidade de “introduzir ciência numa alma em que ela não existe, como se introduzissem a vista em olhos cegos” (República, 518b-c). A tarefa da educação é fazer com que o educando olhe para a sua alma.

Cinco

Platão: educação e política

  • A reflexão platônica sobre a educação, reveste-se de forte teor político (o que se relaciona com a época que viveu).
  • “Because opinion is embedded and expressed in social practices and political institutions, the task of the wise educator has political ramifications” (LoShan, 1998, p. 31).
  • Com essa preocupação em mente, desenvolveu todo um programa educativo, expresso principalmente nos diálogos A República e As Leis.

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Seis

A República

  • O programa educativo da utopia da República é, em muitos aspectos, sui generis: prescreve uma educação estatal geral e comum a todos os cidadãos (homens e mulheres), mas, com base num processo seletivo das melhores almas, estabelece diferenciações entre as três classes da cidade: artesões, guerreiros e guardiões.
  • A divisão remete a uma teoria sobre a estrutura de uma alma individual (apetitiva, espiritual e racional) correlacionada a virtudes respectivas (temperança, coragem e sabedoria) (Franklin, 2014, p. 49) e tipos psicológicos (ferro, prata e ouro).

Sete

A República 2

  • Alguns pontos do projeto de Platão incluem a ideia de um programa educativo que incluiria a ginástica e a música (incluindo a poesia, que deveria ser controlada) para as crianças, de modo a disciplinar o espírito e preparar os estudantes para níveis superiores.
  • Diferentes testes (resistência física, memória, etc.) iriam preparando os jovens para o estudo da matemática (que expressa uma ordem superior que Platão projeta na própria filosofia) e separando as almas filosóficas (os guardiões) que estudariam a dialética.

Oito

Meta educativa platônica e polêmicas

  • “The education that reveals, to all citizens, who is the best ruler is a spiritual ascension: the soul who reaches the top of knowledge is able to rule the city, but shouldn’t judge himself (herself) as a human being better than all others” (Oliveira, 1999).
  • A educação em Platão estrutura as práticas e instituições sociais, regulando e dirigindo a cultura.
  • Embora conceba um ideal de justiça baseado na integração social e na igualdade entre supostos desiguais, o projeto educativo e político de Platão é criticado pelo teor autoritário e idealista, nesse sentido, as próprias ideias sobre educação de Aristóteles são contraponto.

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Nove

Aristóteles

  • Aristóteles (384-322 a.C.) foi durante 19 anos aluno de Platão, e membro da Academia, após a morte deste fundou sua própria escola, o Liceu.
  • Realizou uma crítica à teoria platônica e ampliou ainda mais o escopo das preocupações científico-filosóficos.
  • É considerado o precursor ou fez contribuições importantes a uma série de campos de conhecimento (lógica, botânica, física, psicologia, arte…); ao mesmo tempo procurou organizar os saberes (divisão do conhecimento).

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Dez

Crítica a Platão

  • Aristóteles critica o dualismo da teoria das ideias de Platão, numa concepção de realidade una, na qual existiria apenas a substância individual.
  • “Não existem formas ou ideias puras como no mundo inteligível platônico. É o intelecto humano que, pela abstração, separa matéria de forma no processo de conhecimento da realidade” (Marcondes, 2001, p. 72).
  • Outro ponto em que difere de Platão é na valorização da sensação como etapa do conhecimento, nesse sentido valoriza o saber empírico e a ciência natural.

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Ref

Referências

FRANKLIN, Karen. (2014) Platão e a educação das mulheres na República. In: Martins, Marcos Francisco e Pereira, Ascício dos Reis. Filosofia e Educação: ensaios sobre autores clássicos. São Carlos: EdUFSCAR, p. 45-59.

LOSHAN, Zhang [A. O. Rorty] (1998) Plato’s counsel in education. In: Rorty, Amélie Oksenberg. Philosophers on Education: New Historical Perspectives. Londres, Routledge & Kegan Paul, p. 30-48. Disponível em link.

MARCONDES, Danilo. (2001) Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 6a ed. Disponível em link.

OLIVEIRA, Renato José de. (1999) Plato and Philosophy of Education. Encyclopaedia of Philosophy of Education, online. Disponível em link.

REEVE, C. D. C. (1998) Aristolelina education. In: Rorty, Amélie Oksenberg (org.). Philosophers on Education: New Historical Perspectives. Londres, Routledge & Kegan Paul, p. 49-69. Disponível em link.

Um

 

Filosofia da educação no mundo grego antigo: questões educativas

 

 

 

Dois

Questões educativas sobre Sócrates 1

  • CO pensamento crítico relaciona-se diretamente com o método de Sócrates, de modo a garantir recursos para pensar de modo claro e consequente; porém, isso exige boa fé do aprendiz e uma base prévia.
  • Como nota, Woodruff (1998), ninguém ensina um estudante a pensar, pois não se pode ensinar a um estudante que tenha habilidades básica de pensamento.
  • A meta do professor deve ser transformar o próprio estudante em professor. “Socrates places responsibility on the learner, he can give no guarantee of success. That is part of what Socrates means when he denies that he is a teacher” (Woodruff, 1998, p. 23).

Três

Questões educativas sobre Sócrates 2

  • A educação em Sócrates se distingue do mero letramento, bem como do treinamento profissional.
  • “To learn from Socrates you must be guided, as he is, by the desire for knowledge and you must set the highest value, as he does, on learning” (Woodruff, 1998, p. 26).
  • Importante implicação educativa: a comunicação é livre, mas guiada, e possui uma meta de busca de verdade, que ultrapassa o relativismo ou a consensualidade não rigorosa – nesse sentido, o papel do professor é importante: deve promover a refutação do que é inconsistente.
  • Outra questão interessante: Qual o valor dessa sabedoria? Por que aprender a pensar como um filósofo?

Quatro

Platão, Aristóteles e a educação

  • O teor menos idealista da filosofia de Aristóteles reflete-se em preocupações com a educação menos normativas que as de Platão.
  • Pronto a admitir a variedade das constituições humanas e das sociedades, Aristóteles admite que a educação possa variar.
  • Porém, mantém opinião parecida com Platão sobre a importância da educação na sociedade, prescrevendo também sua obrigatoriedade a todos (inclusive mulheres).
  • Assim como Platão, Aristóteles estabelece um nexo entre política e educação bastante claro.

Cinco

Aristóteles: política e educação

  • O fim da educação é fazer com que os homens adquiram a virtude (aretē) — que lhes proporcionaria a única verdadeira felicidade.
  • Viver de maneira virtuosa, isto é, de acordo com a natureza humana implica na correção e no não desvio desta, o que e, para o filósofo, tarefa da educação.
  • “The goal of an Aristotelian education of the appetites and emotions, then, is to produce citizens with the virtues and the conception of happiness suited to their constitution, citizens for whom acting in accord with the laws is second nature” (Reeve, 1998, p. 55).

Ref

Referências

REEVE, C. D. C. (1998) Aristolelina education. In: Rorty, Amélie Oksenberg (org.). Philosophers on Education: New Historical Perspectives. Londres, Routledge & Kegan Paul, p. 49-69. Disponível em link.

WOODRUFF, Paul. (1998) Socratic education. In: Rorty, Amélie Oksenberg. Philosophers on Education: New Historical Perspectives. Londres, Routledge & Kegan Paul, p. 13-29. Disponível em link.