Aula 2 – O nascimento da filosofia
Um
O nascimento do pensamento filosófico-científico
Dois
Espaço e tempo
- Por volta do século VII e VI a.C.
- Colônias gregas do Mediterrâneo oriental (Mileto, Éfeso, etc.).
- Início do desenvolvimento de uma reflexão de caráter holístico sobre o homem e o mundo, dessacralizando a natureza.
Fonte imagem: Marcondes (2001)
Três
Origens

- Explicação sociológica: cosmopolitismo das colônias gregas colocou em confronto diferentes mitos, o que teve o efeito de relativizá-los.
- Como nota Vernant, “‘a filosofia é filha da cidade’, justamente por que na pólis grega se desenvolveu o gosto pela reflexão em praça pública, o que fez nascer a reflexão sobre a política” (Aranha, 2006, p. 22).
Fonte imagem: Wikipédia
Quatro
Mito e filosofia

- O pensamento filosófico-científico, visto como uma tentativa de compreender o mundo, nasce do pensamento mitológico, porém paulatinamente afasta-se deste.
- Enquanto o mito coloca as explicações no plano sobrenatural, a ciência e a filosofia enfatizam as causas naturais dos fenômenos que se busca entender. O mito ancora-se na tradição cultural comum, exigindo adesão; a filosofia instaura uma atitude não dogmática.
Fonte imagem: Wikipédia
Cinco
Mito e filosofia 2

- “O que é novo na filosofia grega […] parece-me não consistir tanto na substituição dos mitos por algo de mais científico, mas em uma nova atitude em relação aos mitos. […]
A nova atitude que tenho em mente é a atitude crítica. Em lugar de uma transmissão dogmática da doutrina (na qual todo o interesse consiste em preservar a tradição autêntica) encontramos uma tradição crítica da doutrina. Algumas pessoas começam a fazer perguntas a respeito da doutrina, duvidam de sua veracidade, de sua verdade” (Karl Popper citado em Marcondes, 2001, p. 27).
Fonte imagem: Wikipédia
Seis
Características do pensamento filosófico

- Ao longo de seu desenvolvimento, o pensamento filosófico desenvolve um conjunto de noções utilizado para explicar o mundo:
- Physis
- Causalidade
- Arché
- Cosmo
- Logos
- Caráter crítico
Fonte: Marcondes (2001)
Sete
Physis e Causalidade
Physis
- Geralmente o termo é traduzido por natureza, mas possui uma concepção mais ampla ainda; é a realidade que o pensamento busca apreender, usando como recurso o próprio mundo natural e não elementos sobrenaturais, como na explicação mítica.
Causalidade
- Princípio fundante da ciência, que postula que todo efeito possui uma causa – natural, não mágica. São os fenômenos naturais que determinam os outros fenômenos, explicando-os.
- Para enfrentar o problema do teor regressivo na explicação causal, desenvolve-se o conceito de arché.
Fonte: Marcondes (2001)
Oito
Arché e Cosmo

Arché
- Elemento primordial do qual todos decorrem, que dá unidade à natureza.
- Água (Tales), fogo (Heráclito), átomo (Demócrito), quatro elementos primordiais (Platão), etc.
Cosmo
- Noção ligada às ideias de ordem, harmonia e beleza existentes no mundo natural.
- A ordem do cosmo (oposto ao caos) é de ordem racional, significando que existe uma ordem no real apreensível pela racionalidade humana.
Fonte: Marcondes (2001)
Nove
Logos e Caráter crítico
logos
- Literalmente quer dizer discurso, porém, não qualquer um, mas apenas o que é racional, argumentativo, em que as razões são justificadas.
- A própria realidade teria um logos, mas este poderia ser captado pelo homem, de modo que existiria uma correspondência entre tais logos.
Criticidade
- O pensamento é percebido como uma elaboração humana, não como revelação divina, nesse sentido está aberto a críticas e desenvolvimentos. Ele não é dogmático.
- Isto implica a crítica tanto das diferentes correntes filosóficas, entre si e internamente, quanto uma crítica do senso comum (doxa).
Fonte: Marcondes (2001)
Dez
Pré-socráticos
- O desenvolvimento da tradição filosófica se dá com os chamados pré-socráticos, uma terminologia basicamente cronológica.
- Os filósofos deste período, de maneira geral, destacaram-se pelas especulações sobre a natureza (escola jônica) e desenvolvimento científico da matemática (escola italiana, ao qual Pitágoras é associado).
- A despeito de eventuais comentários sobre a educação, esta problemática (inserida no questionamento humano) só ganhará mais destaque a partir de Sócrates e de seus continuadores.
Ref
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. (2006) Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 3a ed.
MARCONDES, Danilo. (2001) Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 6a ed. Disponível em link.
Um
A contribuição da Filosofia para a Educação
Dois
Síntese prévia
- “No contexto da história da cultura ocidental, é fácil observar que educação e filosofia sempre estiveram juntas e próximas. Pode-se constatar, com efeito, que desde seu surgimento na Grécia clássica, a filosofia se constituiu unida a uma intenção pedagógica, formativa do humano” (Severino, 1990, p. 18).
- “If educational policy is blind without the guidance of philosophy, philosophy rings hollow without critical attention to its educational import” (Rorty, 1998, p. 2).
Três
Teses de Amélie Oksenberg Rorty (1998)
- A filosofia da educação merece um lugar relevante entre as várias áreas da filosofia, pela importância do seu objeto de estudo.
- A filosofia da educação, contrariamente ao que por vezes se pensa, é relevante para as decisões de política educativa (polêmicas atuais retomam discussões clássicas), e pode clarificar a reflexão e as decisões.
- As implicações pedagógicas da diversidade das diferentes teorias filosóficas são tema da própria história da filosofia.
- (Para Cunha, 2008) A filosofia da educação pode oferecer uma ponte entre a educação e a filosofia, favorecendo a interdisciplinaridade.
Quatro
Tese e dimensões de Antonio Joaquim Severino (1990)
- Para que a reflexão educativa possa se beneficiar dos conhecimentos das disciplinas científicas, o conhecimento filosófico é fundamental, pois certos aspectos da problemática educacional exigem uma abordagem especificamente filosófica:
- Cabe à filosofia da educação desenvolver uma imagem do homem, enquanto sujeito fundamental da educação.
- A filosofia colabora com o desenvolvimento de uma reflexão sobre os fins da educação (axiologia) – para que se educa.
- A reflexão filosófica permite instaurar uma discussão sobre questões envolvidas pelo processo de produção, de sistematização e de transmissão do conhecimento presente no processo especifico da educação (dimensão epistemológica).
Cinco
Importância do objeto

- Pode-se considerar que, na constituição do ser humano, a educação é um componente essencial.
- Nesse sentido, “se a educação recebida é decisiva na vida de cada pessoa, como argumenta Locke, então a reflexão acerca da própria educação e de como educar bem (qual é e como organizar a melhor educação possível?) é decisiva para qualquer sociedade” (Cunha, 2008, online).
- Fica evidente, portanto, a relevância do objeto e da reflexão filosófica sobre o mesmo.
Fonte imagem: Wikipédia
Seis
Teor instrumental e axiológico da reflexão
- “Não é possível decidir bem em educação sem conceber bem a educação. E não é possível conceber bem a educação sem abordar o conjunto de conceitos, problemas, teorias e argumentos existentes em filosofia da educação” (Cunha, 2008, online).
- Porém, o que é “decidir bem” em educação? Somente a partir do esclarecimentos dos valores é que se pode decidir; aqui um cruzam a dimensão instrumental apontada por Rorty e a axiológica (Severino).
- Ainda, para este autor, a reflexão filosófica sobre o homem tem a possibilidade de escapar do naturalismo/objetivismo positivista, constituindo possível unidade interdisciplinar.
Sete
Tradição filosófica sobre a educação e dimensão epistemológica
- É possível abordar uma história da filosofia, a partir da educação, da mesma forma que sobre outros assuntos. Assim como há preocupações duradouras na filosofia sobre a ética e a moral, a educação constitui objeto sobre o qual há um reservatório de ideias privilegiado.
- “No seu momento epistemológico, a filosofia da educação investe no esclarecimento das relações entre a produção do conhecimento e o processo da educação […] aqui estão em pauta os esforços que vêm sendo desenvolvidos com vista à criação de um sistema de saber no campo da educação […]. Trata-se, sem dúvida, de um projeto de cientificidade para a área educacional” (Severino, 1990, p. 22).
Oito
Crítica
- A partir de uma dimensão epistemológica, a filosofia da educação fornece também instrumentais críticos quanto ao “processo de alienação que [está] a espreita a cada instante na sua relação com o mundo objetivo” (Severino, 1990, p. 24).
- Assim, ela pode ajudar a desvelar o conteúdo ideológico da educação e dos discursos sobre a mesma, de modo a que a educação constitua, de fato, um projeto de transformação da sociedade e não uma instância de poder dos grupos dominantes.
Nove
Filosofia e interdisciplinaridade
- Cunha (2008) defende que a filosofia da educação coloca-se como uma “ponte” entre esses dois domínios do saber, do mesmo como a estética atua entre a filosofia e a arte. Nesse sentido, possíveis contribuições dessa interdisciplina podem ser úteis a ambas.
- Severino (1990), por sua vez, nota que a própria educação precisa da interdisciplinaridade, pois o “sentido essencial do processo da educação, a sua verdade completa, não decorre dos produtos de uma ciência isolada e nem dos produtos somados de várias ciência” (p. 23).
Dez
Comunicação/Educação e Filosofia
- A reflexão sobre a importância da interdisciplinaridade na educação é similar à que ocorre na comunicação, inclusive por fatores parecidos como a multidimensionalidade e a âmbitos praxiológicos que possui (ao lado de epistemológicos).
- A filosofia (e a filosofia da educação em particular) pode ajudar no diálogo entre ambas as áreas, permitindo entender possíveis fundamentos comuns de teorias e abordagens aos fenômenos de interface destas disciplinas, em si, multidisciplinares.
Ref
Referências
CUNHA, Rui Daniel. (2008) O valor da filosofia da educação. Crítica. 28 de fevereiro. Disponível em link.
ROTRY, Amélie Oksenberg. (1998) The Ruling History of Education. In: Rorty, Amélie Oksenberg (org.). Philosophers on Education: New Historical Perspectives. Londres, Routledge & Kegan Paul, p. 1-11. Disponível em link.
SEVERINO, Antonio Joaquim. (1900) A contribuição da filosofia para a educação. Em Aberto. Brasilia, ano 9, n. 45, p. 18-25. Disponível em link.